segunda-feira, 30 de março de 2009

Eu votava era no Rui Alves!

Deixamos aqui alguns extractos duma entrevista de Rui Alves, Presidente do Nacional. O homem pode ser tudo o que quiserem, mas diz o que há muito (há décadas!!) desejo ouvir de um Presidente, um dirigente ou sequer a um candidato a dirigente do Belenenses, e nunca ouvi, nem lá perto! E se o Belenenses tinha muito mais obrigação e muito mais razões.

(É pena o RA não ser candidato às eleições do Belenenses. Votava nele de caras. É mafioso, e tal? Antes mafioso para fora do que para dentro, como no meu infeliz Belém!).



RA - E digo já aqui que não gosto de ter jogadores emprestados.

RA - Criou-se apenas uma competição que nunca poderia ter sido criada sem um objetivo desportivo. Nunca! O sucesso desta competição não era existir uma final Benfica-Sporting. A vitória seria a Taça da Liga dar acesso a uma prova europeia. Isso é que seria a grande vitória do presidente da Liga. (...) Mais: contrariamente ao que foi dito, e isto eu tenho de dizer com mágoa e repúdio, que a Taça da Liga nascia para dar dinheiro aos clubes, eu tenho de dizer que foi para dar aos mesmos de sempre. Aliás, o Nacional vai apresentar uma proposta de alteração. Se uma pessoa tiver o culto da imagem, então é mais agradável que a final seja entre o Benfica e o Sporting ou FC Porto. Não posso é, à custa do meu culto de imagem, perverter um fenómeno que eu tenho de salvaguardar e que antes de ser económico é desportivo. E quando se destruírem as bases desportivas não há economia que salve o futebol.

O modelo português é o único, comparando com os países onde há Taça da Liga, que tem fase de grupos e que põe os grandes à cabeça. Depois, os mais fortes jogam duas vezes em casa. Isto está errado, porque isto está tudo para eliminar a arraia miúda. É ridículo. A competição é iniciada com um regulamento completamente ao contrário. Inicialmente, ainda noutros moldes, até eram as equipas mais pequenas que recebiam os grandes. Mas parece que o Fátima eliminou o FC Porto e ninguém gostou. O Benfica saiu muito cedo também ninguém gostou. Não pode ser assim. Eu acho que, independentemente da parte económica do fenómeno, é preciso respeitar a essência do desporto. E qual é a essência do desporto? Condições de acesso iguais.

RA - Veja o exemplo da Premier League. Um erro de arbitragem é repetido uma vez. Em Portugal, um erro de arbitragem contra o Rio Ave, se calhar, também só é repetido uma vez, mas se for um erro contra Benfica, FC Porto ou Sporting é repetido 20 vezes. Ora, este critério é uma coação sobre o homem que está a arbitrar. A Liga tinha que fazer um caderno de encargos para as transmissões televisivas, para não falar na questão da distribuição de receitas, porque é inadmissível que ainda não se tenha conseguido ir para a centralização dos direitos. Mas o que era fundamental estar, então, nesse caderno de encargos? Igualdade para todos. É uma repetição, é uma. Para todos! E para a comunicação social exatamente a mesma coisa. Não faz sentido falar-se do caso do Benfica-Nacional durante 15 dias. Se fosse ao contrário, falava-se um dia. Assim nunca lá iremos.


Pergunta - Se um clube português chegar, por exemplo, aos 5 milhões pelo Nené e um outro clube estrangeiro oferecer exatamente o mesmo, que negócio prefere fazer?
RA - Vendo para o estrangeiro. Claramente! Aliás, ainda no ano passado o Nacional fez 5 transferências para o estrangeiro: duas para a Alemanha, duas para a Roménia e uma para a Suíça.

Pergunta -Fazendo o negócio, não seria interessante o jogador, ainda assim, poder continuar em Portugal?
RA - Prefiro que ele vá para o estrangeiro, até para não jogar contra o Nacional... (risos)

Pergunta - Mas recorda-se de ter dito que o Nacional disputava "o mesmo campeonato do Sporting"?
RA - Vocês podem não entender, mas eu acho que disputo realmente o mesmo campeonato que disputam o FC Porto, o Benfica e o Sporting. E o Rio Ave, por exemplo. Só há um campeonato.


Pergunta - Quando disse aquilo não estava a tentar provocar?
RA - Não. Naquele momento o Nacional tinha mais 5 pontos do que o Sporting. Isso era a mesma que o Guimarães, na época passada, ter dito que disputava o mesmo campeonato nacional que o Benfica. Toda a gente se iria rir, mas no fim a verdade é que o Guimarães ficou à frente do Benfica. Era impossível o Nacional ter ficado à frente do Sporting? Não é um clube que dispute habitualmente os mesmos objetivos, mas naquele momento disputava. Qual é o problema disso?

RA - Veja bem, quando existe uma crise no setor têxtil, os empresários expõem os problemas ao governo e este - então se for em véspera de eleições mais fácil será - toma medidas de auxílio. Se a banca está falida, faz recurso a capitalização com aval do Estado. Como o futebol se mata a si próprio, aqui não é preciso qualquer medida de auxílio e o governo vai assobiando para o ar. E então vemos grandes bandeiras do desporto nacional, com décadas e décadas de história, como o Vitória de Setúbal, Belenenses ou Boavista, que vão fechando aos poucos. E isto é que é grave. Então e aqui? Não há medidas de auxílio? O futebol não tem crise? O futebol são só as transferências milionárias? Ninguém pensa nos escalões de formação, por exemplo? Eu acho muita piada a este secretário de Estado do Desporto, mas acho isso... antes de mudar de canal. Porque, de facto, quando está a falar, não diz nada de nada.

2 comentários:

  1. Excelente, um dos três melhores presidentes de clubes do futebol português diz o que tem a dizer sem papas na lingua.

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